terça-feira, 19 de março de 2013

[L'art pour l'art]

Tem aquela frase da Lispector que eu adoro: "O inferno é o meu máximo". Pois, sempre acontecem coisas extremamente interessantes durante o meu inferno astral. É um período que tem um quê de tensão, mas também é permeado por levezas, risos fáceis, felicidade bruta em existir. A Graziele Schweig me disse que eu adoro adjetivos. Ontem teve show do Filipe Catto em Porto Alegre. E pra esse show os adjetivos são impreterívelmente os de mais fino corte [no melhor estilo 'baby suporte']

É quase inacreditável a voz, a interpretação, a composição. É um frisson, passion, tragédia, agonia, sofreguidão. Uma elegância com toques de decadência - aqueles ares démodés de blues arrastados, whiskeys, madrugadas, insônias. Pulsar de sangue nas veias, palavras que se encontram como se conhecessem desde sempre [uma fluência perfeita de poesia], um sentir profundo da existência que poucas pessoas conseguem traduzir em gestos ou canções. O que mais me choca é o ineditísmo, a atualidade, a versatilidade [que vai do samba, ao rock, ao blues, a MPB e mais], e aquele "algo mais", aquela especificidade, que não sei o que é nem de onde vem e o que define, mas que faz ter certeza de que o que presenciamos se chama "Arte". Lindo, denso, bruto e verdadeiro.

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Andei depressa para não rever meus passos
Por uma noite tão fugaz que eu nem senti
Tão lancinante, que ao olhar pra trás agora
Só me restam devaneios do que um dia eu vivi

Se eu soubesse que o amor é coisa aguda
Que tão brutal percorre início, meio e fim
Destrincha a alma, corta fundo na espinha
Inebria a garganta, fere a quem quiser ferir

Enquanto andava, maldizendo a poesia
Eu contei a história minha pr´uma noite que rompeu
Virou do avesso, e ao chegar a luz do dia
Tropecei em mais um verso sobre o que o tempo esqueceu

(Saga)


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Sem mais.