segunda-feira, 30 de maio de 2022

Tudo Isso é Apenas Falta de Sol

I am so over. Ontem eu li uma postagem que dizia que nós nunca conhecemos nossos pais de verdade, conhecemos apenas a versão esgotada e sobrecarregada de obrigações deles. Seguia dizendo que por sua vez os pais também não conhecem os filhos, que apenas acessam as versões também sobrecarregadas dos jovens. Sobrecarregada e saturada dos pais esgotados e suas exigências e reclamações, eu diria. Ilustrando o drama estava lá a letra de "Pais e Filhos", aquele hino da década de 1990: "Vocês me diz que seus pais não entendem, mas você não entende seus pais / Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo / São crianças como você, o que você vai ser quando você crescer". So fucking sad, man. Será que as relações se resumem a encontros incompreendidos entre pessoas que estão sempre sendo algo que não elas mesmas por lidar com um sistema que nos fode e a gente se acostuma? Mas a gente queria tanto que não fosse isso, não é? A gente esse eu no coletivo, que queria que a vida fosse Caio F., fosse Lispector, fosse Cazuza lindo e radiante, fosse amor e dor, e melancolia, alegria insana, calmaria, poesia maldita blábláblá. A gente queria que as coisas viessem das p-r-o-f-u-n-d-e-z-a-s. Lembro do Caetano um tanto inconformado com o fato de fazerem parte de uma indústria cultural na lógica do sistema capitalista e o Gil [esse cara que transcende] dizendo muito tranquilo que o esforço sempre foi que não fosse apenas isso. Queria eu ter essa placidez de Gilberto Gil e me convencer que o esforço é suficiente para justificar todas as faltas, os vazios, a conformidade, o cansaço. Verdade seja dita, eu pensava muito nisso com 14 - 15 - 16 - 17 anos. Eu pensava nisso com 20 e poucos. Às vezes eu pensava nisso com 20 e vários. Nos 30 e poucos e vários, eu penso? Veja bem que em geral eu nunca me senti cabendo tão perfeitamente na minha vida e em mim mesma. Envelhecer, quem diria, até então tem sido uma trip que apenas melhora. Eu sei, eu sei, eu sei, sempre soube: é o sistema que fode. E embora isso pareça soo teenager - hm, não é. Another brick in the wall. E derrubar o muro, derrubar o muro é possível?

No meu convite de 15 anos tinha versos de "Pais e Filhos", mas eram outros: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã". Eu fiz 15 anos ontem. E em quatro dias a Valentina vai completar 13 anos. "Quase 15" - disse a minha avó. Eu lembro tão claramente de me dizerem que "depois dos 15, o tempo voa". A sensação é que voa mesmo. Embora certas coisas não mudem, já que sigo sem usar aquele anel de ouro branco que insistiram em me dar embora a Amanda-15-anos-que-amava-Nirvana-e-só-vestia-preto dissesse que nunca ia usar aquilo.

Eu sei é quê. Para amarmos as pessoas como se não houvesse amanhã, não podemos viver como máquinas. Para amar as pessoas a gente precisa ter o direito de ser, de estar, de relaxar, de existir, de respirar - sem pensa em "tem que". E para as pessoas nos amarem a gente também precisa de todas essas coisas, o direito de ser-estar na plenitude do nosso devir devia ser inalienável.

Na Inglaterra estão testando a jornada de trabalho de quatro dias na semana. Na Terra Brasilis estamos em patamares pré-1930 [e tem gente de monte pra criticar o Getúlio, mas vivenciando o século XXI no Brasil eu penso: sério mesmo, folks?]. A real é que não é possível ser feliz no Brasil 2022. Não importa quão bem - bom - boa sejam as vivências individuais - tem um espinho, tem uma câmara de gás improvisada que nos sufoca dia após dia.

And that's all I have to say about that. Eu não queria ser essa mãe que os filhes olham e acham que tá sempre braba, irritada ou mandando fazer alguma coisa, sabe qualé? Eu sei que eu não sou essa pessoa - mas agora estou em dúvida se eles sabem. Se um dia vão saber. Anyway, anyhow, isso não é nada, folks. Tudo isso é apenas falta de sol.