quarta-feira, 20 de julho de 2011

Dark Ages - ou: lamento sobre a chuva interminável

Essa chuva constante&incessante, sempre no mesmo tom, sempre no mesmo ritmo, me dá uma sensação de eternidade - aquela eternidade medieval, um locus de tempo fixo a correr sobre si mesmo, sem sair do lugar. Cruel eternidade do não-acontecimento.

A chuva também tem um aspecto semelhante ao do vento, faz brotar em mim a verdade do mundo orgânico: mesmo se não houve nesse planeta homo sapiens sapiens, culturas e civilizações - essa chuva estaria a cair da mesma maneira. No fundo, o mundo segue sendo um grande deserto, povoado por fantasmas. Pois quê. A morte é fim iminente.

Às vezes eu acredito mesmo que o mundo só existe na medida em que nós acreditamos na materialidade do que é externo.

Sensações com uma mesma raíz, e profundamente diferente: o vento me grita a vida; a chuva me faz doer a morte (ao menos essa chuva que é constante e com tendências infinitas).

Chuva infinita, mórbida como um relógio quebrado, que não conta mais o tempo.


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