sábado, 30 de julho de 2011

Shinning Crazy Diamond in a Cloudy Day



Quem mais nos salvaria nessa vida de semi-sapos encarcerados em dias úmidos & casas ou apartamentos vertendo lágrimas pelas paredes? O RS vai virar um brejo de vitórias-régias e coachos se não parar de chover. Vão começar a crescer fungos nas raízes da menina-vegetal, nos cachorros de rua, na ponta dos guarda-chuvas e sapatos molhados dos transeuntes. Até tirei as pantufas do pé a fim de espantar essa estática preguiçosa de sábado sem sol. Alpargatas vermelhas, dancinhas de mexer os pézinhos quaisquer, cabelos esvoaçando - ainda que agora sejam mais curtos, eles ainda gostam de se movimentar cortando o ar. Nessa cor de ameixa escura das dark ages (ainda quê. agora eu ande pela verdejante e exuberante natureza dos diários de Colombo quando da descoberta da América - Dá pra imaginar o impacto? Eu não consigo DE FATO, embora entenda racionalmente, me transportar para a sensação de algo tão tão inimaginável. Realismo fantástico.)

Então, olhando pelos vidros fechados para os galhos das árvores a balançarem suavemente na rua, a falta de cor dos dias cinzas, um que outro passarinho errante e sem voz, eu lembrei de um cara que se chama Syd Barrett. Até que poderia ter sido o Dylan, se eu morasse em um condomínimo que remetesse mais a urbe, pero que. Aqui é meio fora de lugar mesmo. Respondendo a pergunta do início desse texto quite nonsense, only a shinning crazy diamond could let be more light in a cloudy day like this.

E o que aconteceu foi que eu lembrei. Lembrei de como amava demais, sentia demais. De como cada música dessas guardava o sentido do mundo. Como são lindas as canções. Como são poeticamente plásticas e suaves. Barret was so kind.


Honey love you, honey little,
honey funny sunny morning
love you more funny love in the skyline baby
ice-cream 'scuse me,
I've seen you looking good the other evening

(Rá! Adoro!)

***

Nesses dias de julho morreu a Amy Winehouse. Embora eu não fosse lá tão fã, achei uma coisa muito muito triste ela morrer assim. Foi a Janis Joplin dessa geração. Às vezes parece que o tempo passa, os ventos da história sopram, e os mitos continuam se renovando nesse perpétuo ciclo. Mesmo nesses tempos desencantados e desinteressantes, ainda aparecem pessoas que tem Espírito a morrer uma morte romântica, a cantar com sangue pelas veias. Vida curta, vida intensa. É sempre triste o fim. Faltava agora só o ex-namorado se matar na cadeia. Entrariam pro panteão dos mártires da cultura/sociedade ocidental. Two lost children in the wood. Ecos de frases que nos meus vinte e poucos soavam belas: todo amor pede um ato de morte. Ou: todo poema contém uma gota de sangue. Anyway, anyhow. Amy foi cremada, e foi nauseante pensar na não-existencia orgâncai de seu corpo, daquela imagem jovem, almodovariana, kisch, rock'n'roll e sensual. Só resta uma lápide, mas no fim, é só o que vai restar para todos.

Seguem os sapos a coachar


***

Por fim, deixando um pouco dessa morbidez-dos-dias-nublados de lado, tem uma barretiniana adaptada de Joyce perfeita para a Valentina:

Lean out your window, golden hair
I heard you singing in the midnight air
my book is closed, I read no more
watching the fire dance, on the floor
I've left my book, I've left my room

For I heard you singing through the gloom
singing and singing, a merry air
lean out the window, golden hair...


Enquanto eu tento sentir algumas coisas com a intensidade dos idos anos, ela anda de lá prá pelo ap, um sapo tocador de acordeón na calça made in china, longos cachos dourados a balançar entre os sorrisos e os gritos: "mamãe!" Porque a princesinha que já tem dois aninhos, quer o monopólio da atenção, das palavras, dos discos e dos filmes. Pensando bem, a música dela é uma assim: She was a princess, queen of the highway ;)

Um comentário:

Alan disse...

eu gostei desse post, alias, todos teus ultimos... parecia mais uma amanda nos seus recem 20 anos, e nao beirando os 30 :P

nao q eu esteja fazendo uma comparacao pra elogiar um e xineliar outro, enfim, eh so diferente